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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 13/01/2017

Casa das Máquinas VI: SL-1200 – comprar ou não comprar, haja tostão

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 13/01/2017

Sensivelmente há coisa de um ano, o site Digital Audio Review publicava um artigo intitulado “Technics’ SL-1200GAE Is For Audiophiles, Not DJs“. O estudo em questão, a cargo de John H. Darko, jornalista e editor da plataforma, passava a pente fino o SL-1200GAE (AE= Anniversary Edition) – uma edição especial e limitada do clássico que viu a sua produção ser descontinuada em 2010 – e denunciava, ao mesmo tempo, uma viragem no seu público alvo. De repente, uma marca que sempre foi acarinhada no seio dos DJs, virava as costas em busca de um novo paradigma, o dos audiófilos.

Uma curta viagem no tempo poderá ajudar-nos a entender a teoria de Darko.

O primeiro gira-discos com direct-drive – tecnologia que trocou o comum sistema de correias e cremalheiras por um motor directamente ligado ao prato, reduzindo os ruídos e aumentando a durabilidade o equipamento – foi introduzido no mercado pela Panasonic em 1970. O Technics SL-10 granjeou o sucesso pretendido e valeu à marca japonesa 30% da cota de mercado na área. Dois anos depois, chegou às lojas o icónico SL-1200, mas só em 1979, através da gama MKII (com novas características como amortecimento de vibrações e rejeição ao feedback), é que os DJs encontraram o seu verdadeiro fetiche. Desde então que a relação é intensa, principalmente em estilos como o hip hop, house e techno.  Hoje em dia, para possuir um MKII em segunda mão, o comprador terá que desembolsar um quantia entre os $590 e os $1900, consoante o estado de conservação do mesmo. Nada que umas boas poupanças não consigam resolver.

 



No exacto ano em que a Panasonic descontinuou a produção do célebre gira-discos, a procura de vinis aumentou como já não acontecia há muito tempo, mantendo-se assim até aos dias de hoje, o que motivou o regresso à produção em Janeiro do ano passado. Assim sendo, a marca colocou no mercado dois novos modelos “Grand Class”, o SL-1200G e o SL-1200GAE – a tal edição especial, limitada a 1200 exemplares. A nível técnico, ambos os pratos se assemelham aos seus precedentes, excluindo uma ligeira alteração no material que constitui o braço (alumínio para o modelo G; magnésio para o modelo GAE). A grande diferença? O preço. Qualquer uma das versões custa $4000, um valor que supera em larga escala o dos MKII em segunda mão. A questão que o site Tech Crunch coloca, num artigo intitulado “The Return Of Technics Is Symbolic, But Will Anyone Actually Buy Them?“, é pertinente: “com tantos modelos em segunda mão à venda no eBay e a desempenharem exactamente o mesmo papel que os recentemente lançados, que razão levará alguém a gastar mais?”.

Numa entrevista para a plataforma What Hi-Fi, o director técnico da Technics, Tetsuya Itani, justificou o elevado preço dos novos gira-discos com o facto de ter sido obrigado a investir de novo em todas as ferramentas necessárias para a construção do equipamento, visto estas terem desaparecido no momento da descontinuação do produto ou se encontrarem irremediavelmente danificadas. “Fabricámos SL-1200 durante muitos anos, o que nos reduziu muito o custo de produção. As peças agora são muito mais caras”, concluiu, admitindo depois que o elevado preço tem sido um obstáculo a esta “nova” vida da marca.

Regressemos, então, à teoria de Darko.

“Coloquem-se no lugar da Panasonic”, desafia-nos o artigo publicado na Digital Audio Review. “Qual o segmento de mercado que escolheriam para um regresso em força do SL-1200? O dos DJs, completamente rendidos ao universo digital com toda a gama CDJ e softwares como Serato e Traktor? Ou o das pessoas que se sentam em casa em frente a um sistema de som de alta fidelidade para esmiuçarem a sua colecção de vinis?”. A resposta é-nos dada pelo próprio Darko. “Os últimos cinco anos demonstraram que os ouvintes domésticos são a força dominante no que ao ressurgente mercado do vinil diz respeito. São os álbuns clássicos e não as remisturas de doze polegadas que preenchem os topo das tabelas de vendas no final do ano. Os audiófilos são também os que mais defendem a qualidade e superioridade deste formato”.

O artigo continua com Darko a estabelecer pontos de comparação entre os novos gira-discos da Technics e marcas concorrentes como a Stanton, a Pioneer, a Reload e a American Audio, dando a entender que são alternativas quase idênticas e mais económicas para o não-tão-recheado bolso dos DJs, pois um par de SL-1200GAE e uma mesa de mistura podem chegar perto dos $10000. Nem todos, a não ser aqueles que realmente procuram a qualidade no seu mais infinitesimal pormenor, conseguem ter dinheiro para tal. Todos os indícios apontam na mesma direção: os audiófilos. O remate a esta teoria é da autoria da própria marca. “O nosso alvo são as pessoas que ouvem gravações analógicas em sistemas de alta fidelidade. Nada contra os DJs, mas é um mercado problemático a nível de marketing. Não queremos vender o SL-1200 como a melhor ferramenta para DJs. O SL-1200 é o SL-1200”, confessou a marca ao New York Times no início deste ano.

Felizmente, nem todas as notícias em torno do retorno do SL-1200 são desconcertantes. Poucos dias depois da entrevista para o NYT, numa conferência no evento CES 2017, a Panasonic revelou o preço do mais recente elemento da família “Grand Class”, o SL-1200GR. O novo “brinquedo” da marca japonesa vai custar $2000, nem mais nem menos do que metade do valor dos seus precedentes, o G e o GAE. A diferença está nas componentes utilizadas e na variação do motor de direct-drive utilizado. Será este um passo à frente depois do gigantesco passo atrás em relação ao universo dos DJs? Só o tempo e os números o dirão. De qualquer forma – seja qual for o modelo a adquirir, novo ou em segunda mão – o melhor é começar a poupar.

 


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