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Publicado a: 03/12/2016

Capicua pelas mulheres e a liberdade no CCB

Publicado a: 03/12/2016

[TEXTO] Alexandra Oliveira Matos [FOTO] Luís Almeida

“Um dia ainda vou dividir um palco com uma banda” cantava Capicua em “A Última“. E ali estava ela. Com uma banda, no palco do Centro Cultural de Belém. Atrás de si, a dar ainda mais corpo às suas rimas, estava Virtus nos samples, D-One nos pratos, Ricardo Coelho na bateria, Luís Montenegro no baixo e Sérgio Alves nos teclados. Sem esquecer M7 no apoio vocal. Ao fundo os gatos amarelos, os búzios, as medusas, as pranchas de windsurf de Ana Types Type.

A sala estava muito bem composta e pareceu-me que não foi só a mim que custou aguentar o nó na garganta. Capicua dizia que estava “mais feliz do que nervosa” e isso sentia-se na força que dava a cada palavra e no palco que parecia sempre cheio. “Lenga” e “Sereia Louca” abriram o concerto. Só depois começou a viagem até às primeiras rimas gravadas pela rapper portuense: “1º dia” e “A Última” do primeiro disco. Muita gente cantava as letras e muitos, ainda tímidos, acediam ao pedido de Capicua e M7 para levantar os braços.

O alinhamento “deu muito trabalho, mas fez muito sentido”, confessou Capicua em palco. A rapper diz que quis escolher as suas músicas que “melhor resistem ao tempo”. E não era difícil adivinhar as palmas e gritos aos primeiros acordes de Casa no Campo. Os arranjos da banda e a interpretação de Capicua fizeram com que logo ao meu lado ouvisse um “já gosto mais desta música”. Mas como “nem tudo é cor-de-rosa”, quis sublinhar a rapper, “também é preciso transformar a merda em ouro”. Foi aí que chegou a “Jugular” e “Medo do Medo” e vi o senhor ao meu lado, dos seus 60 anos, a endireitar-se na cadeira. “A Mulher do Cacilheiro“, dedicada a todas as mulheres presentes, chegou como um punho fechado em direcção ao estômago. E assim se fechava a tríade.

Nerve subiu a palco para cantar Judas e Dalila, à semelhança da actuação no Mexefest. Foi ele, aliás, o único convidado do concerto. Se faltou alguém mais? Capicua e os arranjos da banda encheram o palco e aqueceram a plateia o quanto bastava.

Não faltou a “Alfazema” e a “Lingerie” da mixtape Capicua goes preemo. Nem a “Mão Pesada”, que levou o público ao rubro e a “Pedras da calçada”. E “Amigos imaginários“, da mixtape Capicua goes west, “uma das músicas que pedem sempre”, comentou a rapper. Pelo meio, num grito pela liberdade, Capicua cantou dois poemas de Sophia de Mello Breyner e Sérgio Godinho. “A paz, o pão, a habitação, saúde, educação” bem conhecidos da plateia, a quem o pedido de Capicua para que o 25 de Abril não fosse só uma data no calendário não passou despercebido.

Claro, “Vayorken” a fechar antes do encore e, para acabar definitivamente, “Barulho“. Cá fora ainda havia quem cantasse “pum pa, vamos fazer barulho”. Não faltaram abraços, beijinhos, autógrafos e selfies com Capicua que, sempre simpática e nitidamente feliz, acedeu a todos os pedidos dos fãs. Para mim, um concerto que espelha bem a mensagem forte de Capicua: para novos e velhos, às mulheres e à liberdade.

 


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