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Publicado a: 04/09/2015

Branko: “Não consigo distanciar-me da ideia de querer complicar a vida das pessoas”

Publicado a: 04/09/2015

 

[FOTOS] Direitos Reservados

 

A música de João Barbosa está sempre ligada a um conceito de globalidade. Desde o início, com a banda que idealizou, há dez anos – com Kalaf, RIOT e Conductor – quando então Lil’ John quis partir da Buraca para o mundo. Dez anos depois de From Buraka To The World, o primeiro EP dos Buraka Som Sistema – e já depois de ter passado pela fase de J-Wow – Branko regressa a este desígnio universal.

Atlas é o seu primeiro disco “mais a sério” e que pode puxar pela ideia daqueles livros que explicam muito bem, página a página, os contornos do planisfério terrestre. Aqui, os desenhos do planeta são gizados em forma de beats, teclados, ritmos, jogos de ancas, pés a mexer, palavras e vozes que navegam entre cinco cidades, cinco pólos culturais em permanente ebulição: a eterna Lisboa – casa do produtor Branko -, Amesterdão, Nova Iorque, São Paulo e Cidade do Cabo.

Todas estas cidades são muito diferentes umas das outras, mas também um vulcão de ideias, de culturas e encontros. Toda a gente é de lá, mas ninguém é só dali. Em cada um destes sítios as pessoas entrecruzam-se geracional e geograficamente, criam novas ideias, novas tendências e culturas. Tal como Branko cresceu na Amadora a comer cachupa cabo-verdiana à quarta-feira e um bitoque à quinta, também em Amesterdão há músicos e produtores como Svedaliza, nascida no Irão, ou Fellow, da ilha de Aruba, que cresceram no meio de uma outra cultura, mas que não deixaram de impor a sua própria identidade nos movimentos musicais da cidade – como explica no primeiro episódio do documentário web, Atlas Unfolded, realizado por João Retorta e dedicado a esta criação itinerante do disco Atlas.

“Interessam-me os sítios em que os amigos das pessoas não são todos dali, encontros culturais que não era suposto existir, mas por aquilo em que as cidades se transformaram, acabaram por existir e criar alguma coisa nova a partir daí”, confessa Branko nesta entrevista ao Rimas e Batidas, que aconteceu no Lux, uma casa que tem sido tão importante para fazer crescer a sua identidade enquanto músico, produtor, A&R da editora que ajudou a fundar – a Enchufada – ou, como acaba por se dizer, “agitador cultural”. “Sinto que usei Lisboa como um ponto de partida para todos estes sítios para amplificar aquilo que é a minha forma de pensar e que adquiri aqui nesta cidade. Acho que a música que está agora nas ruas consegue confirmar que não fui o único a pensar dessa forma.”

Um disco gravado em cinco cidades, em cinco estúdios diferentes – cada um deles com a permanência de uma semana – e mais de 20 colaborações. Branko não é nem nunca foi artista de se fechar entre quatro paredes diante de um monitor. Quando o faz, quer ter pelo menos a certeza de que as paredes estão pintadas de fresco para poder, que nem um miúdo traquina, meter-lhe as mãos e deixar a sua impressão digital tirada ali no momento. “Nunca consegui ser o artista que dizia: ‘Eu sou deste género’. Mesmo quando era DJ da CoolTrain [Crew] estava sempre à procura de outros discos para conseguir passar no meu set de drum ‘n’ bass. Apercebi-me que o dancehall encaixava, ou que ‘Chiclete’ dos Táxi também funcionava e o Rui [RIOT] até fez uma versão drum ‘n’ bass. Sempre fez parte da minha personalidade musical e não consigo distanciar-me da ideia de querer complicar a vida das pessoas e dar-lhe mais informação do que aquela que elas estariam preparadas para receber.”

Branko confirma: quase dez anos depois, três álbuns, dois EP e o documentário Off the Beaten Track, a ideia que orientou sempre os desígnios de João Barbosa foi a que estava no título do primeiro EP da sua banda: From Buraka to The World, independentemente da forma como eram executadas: em discos, produções para outros artistas ou em curadorias de palcos de festivais ou programas de rádio. “Não me podem apontar a falta de consistência”, ri-se. “Esse conceito sempre esteve lá: a ideia da música de dança com um cariz mais cultural sempre esteve lá. Sempre foi esse o drive e a busca mais importante desta equação inteira.”

 

 

Branko apresenta Atlas hoje à noite, em São Paulo, num evento especial Boiler Room da Red Bull com curadoria do próprio artista. Os convidados são MC Bin Laden num back to back com Mc 2K (OFICIAL), Marginal Men e Viní. A partir das 22h, com transmissão em directo.

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