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Publicado a: 24/05/2018

Blockhead: “Gosto de como a música antiga soa”

Publicado a: 24/05/2018

[TEXTO E TRADUÇÃO] Diogo Pereira [ENTREVISTA] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

Estivemos à conversa com Blockhead, nome artístico de James Anthony Simon, conceituado produtor nova-iorquino conhecido pelos seus álbuns de hip hop instrumental com o selo da Ninja Tune e pela sua prolífica parceria com Aesop Rock e outros membros da Definitive Jux, acerca do passado, do futuro e dos seus gostos musicais.

O seu novo álbum, The Art of the Sample, com selo da histórica editora britânica De Wolfe, é uma homenagem à library music de antanho.

 



O teu álbum do ano passado tinha alguma instrumentação ao vivo, mas nunca te afastaste do sampling: depois de todos estes anos a girar discos, o que é que ainda te faz correr para o sampler?

Eu não toco instrumentos, há sempre essa questão, mas, acima de tudo, eu adoro sampling. Gosto de como a música antiga soa. Gosto de como foi gravada. Gosto da era pré-digital do som e pegar nele e misturá-lo com um som mais moderno diz-me muito.

O teu novo álbum é construído em torno de samples do fantástico catálogo da Music De Wolfe. Como é que isso aconteceu?

O meu agente conhecia o tipo que gere a De Wolfe nos Estados Unidos e eles inventaram a ideia. Eu entrei logo a bordo porque a ideia de ser capaz de samplar música livremente é o sonho de qualquer produtor.

Tiveste acesso directo aos masters, talvez algumas sessões multipistas? Como é que o projecto se desenrolou, em termos técnicos?

Não houve sessões multipistas ou nada desse género. Eles abordaram-no como se eu fosse escavar nos arquivos e deram-me acesso à discografia inteira. Varri centenas de álbuns, escolhi os samples e fiz as faixas como qualquer outra batida que crio com samples.

Quando é que ouviste falar pela primeira vez em library music, e como é que conseguiste encontrar os teus primeiros LPs do género?

Honestamente, eu tenho estado a samplar as coisas deles há anos sem saber. Eles têm tanta música. E tantas músicas que canções clássicas samplaram. Quanto à library music, esse tipo de coisa veio sempre com o olhar para os discos. Nunca me foquei profundamente nisso (a maior parte já tinha sido bastante usada por outros produtores) mas definitivamente usei a minha parte.

Tens editoras de library favoritas, ou um período favorito?

Antes da Music De Wolfe, apenas tinha usado a Bruton e a KPM deliberadamente, mas nunca me foquei demasiado numa só. Em termos de época, os 70s sempre me cativaram mais.

A musicalidade em muitos destes discos é absolutamente impressionante: estou a assumir que gostas de gente como Brian Bennett, Alan Hawkshaw, Herbie Flowers… Em muitos aspectos estes músicos parecem ter pensado em hip hop mesmo antes de acontecer, os grooves eram tão tensos, quase que se podia rimar em cima deles. De que nomes estavas à procura nas capas desses álbuns?

Gostaria de dizer que estava assim tão concentrado em quem estava a samplar e muitos desses nomes certamente apareceram repetidamente, mas eu estava apenas à procura de sons. Não prestei muita atenção aos nomes até depois de ter usado os samples.

Usaste este tipo de samples no teu trabalho para o Aesop Rock, por exemplo?

Hmmm… Honestamente não me lembro. É possível mas sinto que, quando estava a fazer música com ele na altura, não tinha entrado tão aprofundadamente na library music.

Qual é a sensação de acrescentar um capítulo à história do universo da library music?

É fantástico! Sinto-me honrado!

Dizes que o tamanho do acervo é tão grande que este projecto do Art of the Sample pode ser uma coisa recorrente. Já estás a trabalhar num novo volume?

Na verdade, já tenho mais dois volumes acabados. Não tenho a certeza de quando vão sair mas só precisam de ser misturados e estão prontos a lançar.

Já temos três décadas de sampling atrás de nós. Achas que ainda há música por descobrir? Depois do funk e da soul, do jazz, do rock psicadélico, de discos com sintetizadores, da library, das bandas sonoras, qual é o próximo território musical a ser explorado através do sampling?

Claro que sim. Sinto que a música lá fora é interminável e, enquanto os produtores conseguirem encontrar formas criativas de usar samples, isso nunca vai mudar.

 


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