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Publicado a: 10/11/2016

Arcade é o melhor álbum que ainda não ouviram em 2016

Publicado a: 10/11/2016

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

 

Perdem-se horas e horas à procura de artistas que nos encham as medidas e, grande parte das vezes, tentamos esticar o tempo sempre de forma infrutífera para no fim encontrarmos nada. Mas, de vez em quando, cai-nos um artista no colo e reconhecemos ao primeiro acorde, primeira melodia e primeira palavra que vai valer o nosso tempo. Topaz Jones é um desses casos e Arcade é um trabalho que usa o funk como base e o rap como onda de difusão.

George David Brandon Jones, nome que consta no seu bilhete de identidade, nasceu há 23 anos rodeado do melhor da música negra: Marvin Gaye, Ohio Players, Prince, Jimi Hendrix, Parliament-Funkadelic e Earth, Wind & Fire eram o que se ouvia na sua casa. A família explica esta aproximação prematura a todos estes grandes nomes: o pai era um músico de funk e a avó pertenceu a um grupo da Motown. Essa sensibilidade e conhecimento fá-lo destacar-se dos restantes MCs/artistas que têm vindo a aparecer e o rapper de New Jersey só encontra paralelo em Chance The Rapper ou Mick Jenkins, por exemplo.

E se a sua carreira começou bem cedo – 6 anos – com mais quatro miúdos a fazer música inspirado em grupos como Backstreet Boys ou N’Sync, o que ouvimos aqui está num planeta tão distante que seria difícil nos apercebermos que alguma vez pertenceram ao mesmo lugar. A vontade de escrever “baladas estranhas”, como contou em entrevista com a Pitchfork, aconteceu aos 8 anos de idade, gravando com o primo num teclado e vendendo as demos à família.

O seu primeiro trabalho foi The Honeymoon Suite, projecto com 16 faixas lançado em 2014 que, apesar de não o aproximar tanto do funk como Arcade, já expunha as qualidades técnicas e a vontade de rimar em instrumentais menos comuns. E 2016? O futuro do hip hop está bem entregue e o elemento orgânico é cada vez mais requisitado. Topaz Jones apercebe-se do passado e presente da música e aponta o caminho para frente. Podemos reconhecer a facilidade em escrever refrões orelhudos como Pharrell Williams – ouçam “Sportscar” e comprovem -, flow sem corda à Andre 3000 em “Get Lost” ou a vontade de explorar caminhos diferentes – mais indie – como Kid Cudi. Mas ele quer ser ele mesmo, e é aí que acaba por se identificar mais com os três nomes anteriormente mencionados, tendo todos em comum o facto de serem donos de uma identidade vincada que nos permite reconhecer à primeira quem é quem.

 



“Eu estava a ouvir To Pimp a Butterfly e a lembrar-me de ser um miúdo na casa do meu tio em Harlem e ouvir conversas que os ‘meus velhos’ tinham sobre o mundo e a vida”, disse em entrevista à Pitchfork. Kendrick Lamar aparece no mapa de influências e, provavelmente, terá ajudado a libertar de preconceitos o rapper. Se assume que já foi mais político no seu discurso, Topaz Jones está agora mais preocupado em falar da sua própria verdade.

Com dedo em todos os beats – e que beats!, o talentoso artista reuniu um conjunto de produtores também prendados para o ajudar: Thelonious Martins, membro do grupo SAVEMONEY, lançou recentemente o excelente Late Night Programming, que também fará as delícias dos amantes de instrumentais; Leven Kali divide com Jones os créditos de “Powerball”, faixa ritmicamente demoníaca e com um riff a citar abundantemente N*E*R*D.

Entre linhas de baixo pulsantes e gordas, sintetizadores dreamy, refrões para cantar em uníssono, flows desconcertantes e versos sagazes, Jones aparenta ter uma carreira brilhante pela sua frente. A apresentação está feita e a música pronta para ser consumida. Vão carregar no play?

 


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