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Publicado a: 24/09/2016

Anderson .Paak: paaking heat!

Publicado a: 24/09/2016

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

 

Malibu sucede a Venice no périplo pessoal de Anderson .Paak (“o ponto”, explicou ele em entrevista, a propósito da forma como grafa o seu nome, “simboliza atenção ao detalhe”), cantor soul de excepção que é igualmente um dos grandes obreiros do futuro.

Se o desmedido talento que está exposto até ao osso em Malibu não fosse tão evidente – voz de homem de trinta anos que viveu muito, que carrega óbvias cicatrizes e que transporta tudo para dentro da sua arte, sem filtros ou máscaras – poderia convencer-se qualquer céptico enumerando argumentos extra no percurso deste nativo de Oxnard, Califórnia (mesma terra de Madlib). .Paak trabalhou com Shafiq Husayn dos Sa Ra Creative Partners, acusou no radar da Stones Throw depois de algumas edições de menor visibilidade, construiu uma cumplicidade com o produtor Knxlwledge no projecto NxWorries (prestes a lançar álbum de estreia, Yes Lawd) e depois assinou uma participação de altíssima visibilidade em seis dos temas de Compton – A Soundtrack, o suposto álbum de despedida de Dr. Dre. Já este ano, Anderson .Paak fez saber que está a trabalhar com Flying Lotus e anunciou a sua assinatura de contrato com a Aftermath de Dre. Qualquer uma destas entradas no seu rico currículo poderia servir de pilar para assentar uma carreira. Mas além disso tudo, .Paak ainda editou Malibu. Impressionante, de facto.

 



Filho de uma camponesa sul-coreana e de um ausente soldado da força aérea americana que fez também carreira como mecânico e presidiário, .Paak sabe que a vida não é uma sucessão de capítulos cor-de-rosa. E tudo isso existe na sua música, a luz e a sombra, o riso e o lamento. Logo na faixa de abertura se Malibu, “The Bird”, a sua voz passa em revista a sua a magoada biografia, retirando daí não os abismos, mas a dignidade com que se ultrapassaram os obstáculos. Na sua voz a verdade vive livre.

 



Anderson .Paak também é produtor e compreende as dinâmicas da música, as suas diferentes eras, as suas múltiplas tonalidades. E no novo álbum navega entre soul clássica, devedora dos monumentos da Motown, hip hop dos anos 90 ou estilismos electrónicos mais contemporâneos. E em todos esses contextos, .Paak soa natural, como se pertencesse a cada um dos lugares que se digna visitar, sem nunca se deter excessivamente em nenhum deles.

Com colaborações certeiras de gente como BJ The Chicago Kid, Schoolboy Q, Rapsody ou Talib Kweli, .Paak nunca se deixa ofuscar pelo igualmente assinalável talento das suas companhias, antes deixa claro que é tanto homem de monólogos quanto de diálogos. Malibu vai ser um daqueles discos que vamos reencontrar no final do ano, quando se fizerem as contas ao que de melhor 2016 nos deixa. É o good kid, mAAd city que precisava de fazer agora. Quando assinar o seu próprio To Pimp a Butterfly o mundo já não o vai poder ignorar mais.

Texto originalmente publicado na revista Parq.

 


 

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