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Publicado a: 08/09/2017

8 pedaços de sabedoria que retiramos da entrevista de Jonwayne à Forbes

Publicado a: 08/09/2017

[TEXTO] Rui Correia [FOTO] Direitos Reservados

Depois do sucesso com Rap Album One, álbum editado pela Stones Throw em 2013, e após uma série de acontecimentos que o levaram a um tumulto pessoal (o vício do álcool ia auto-destruindo-o), Jonwayne recuperou a sobriedade e voltou em força de forma independente. O rapper californiano ganhou um momentum inesperado desde que editou o seu novo álbum Rap Album Two em Fevereiro deste ano. A sua música tem sido mais procurada agora, seja nos formatos físico e digital, do que aquando das primeiras semanas que sucederam ao seu lançamento. Uma pequena evidência de que as visceralidades das suas palavras superam a efemeridade de objectos criativamente ocos. Esse motivo, entre outros, como a não existência de fórmulas para fazer sucesso, musical e/ou financeiro, foram explorados por Max Bell em entrevista para o site da Forbes.

Prestes a iniciar uma tour pelos EUA – que vai decorrer de Outubro a Novembro – , Jonwayne revelou alguns dos seus pensamentos com argumentos convictos e dissidentes relativamente à indústria musical – abordando a visão acerca da sua recentemente criada editora Authors e a conexão à Alpha Pup -, consequentemente embalado para a importância e recuperação do artista, ou melhor, do autor como personagem principal no meio criativo.

De uma entrevista longa e cuidada (que aconselhamos a sua leitura completa aqui), resumimos, reunindo no Rimas e Batidas algumas das temáticas mais importantes incluídas nela:

 



[A criação e a visão da editora Authors]

“Desde 2012, queria ser curador e juntar uma série de álbuns de rap. Quando estava finalmente a conseguir solidificar um futuro para mim, fazia sentido trazer de volta a ideia de curadoria sob a forma de uma editora. O nome Authors de certa forma colou-se. Gosto desse nome. Significa possuir o material, sendo seu criador. É um nome que ainda não foi reutilizado para a nossa geração. (…) Com o nome escolhido, quero aproveitar as partes boas das editoras antigas. Não estamos a tirar 95% dos lucros das pessoas, mas estamos a dar-lhes a capacidade de afirmarem-se numa linha de montagem já estabelecida. Nós temos produtores internos (in-house), um método para gravar os álbuns e uma filosofia sobre como realizamos o nosso trabalho. Sou um bom coach no estúdio; O Kev (Daddy Kev, produtor e um dos fundadores da editora Alpha Pup) mistura e masteriza os temas; Nós gravamos no Zoo Cosmic, que é o meu estúdio favorito em Los Angeles, tanto pelo equipamento como pela vibe.

Eu também não quero trabalhar com artistas grandes. Eu quero levar pessoas desconhecidas, que têm o potencial de serem estrelas, e dar-lhes a sua estreia numa editora major sem que eles tenham que desistir tanto dos testículos esquerdo e direito para fazê-lo.”

 


[A crescente independência dos artistas face às editoras]

“Longe vão os dias em que precisávamos de agregados de editoras, os dias em que as pessoas executavam um negócio e lucravam com a ignorância das pessoas que ainda não tinham noção. Todos os dias, os artistas estão a tornar-se mais conhecedores do seu verdadeiro valor. Um artista já nem precisa de uma editora neste momento. Se eles [artistas] tiverem dinheiro e conexões suficientes, facilmente obtêm um distribuidor físico, um distribuidor digital, algumas agências de relações públicas a diferentes custos, um engenheiro de mistura e masterização, tempo de estúdio.”

 


[Editoras com uma identidade como forma de fidelizar um público]

“Eu olho para a Authors como o centro para uma visão, uma visão colectiva que outros compartilham. Eu vejo a nossa editora como sendo semelhante a uma editora em que havia músicos e produtores internos e pessoas que trabalhavam num estilo linha de montagem. Motown é o melhor exemplo. Eles tinham sub-divisões e tudo isso, mas na maior parte, eles tinham tudo no seu estúdio. Quando um lançamento da Motown saía, nem era necessário escutá-lo. Bastava olhar para a nome da editora no disco para dizer, ‘Eu sei o que isto é.’ Não sabias se seria melhor do que outro disco da Motown, mas já conhecias o universo em que residia. (…) Muito do que separa algumas editoras de outras é a continuidade na sonoridade e na visão. (…) Há editoras que trabalham sobre esse fundamento e realmente mantêm uma experiência de forma contínua de um lançamento para o próximo – a TDE é um excelente exemplo disso. (…) Eles construíram um universo e eles têm o seu público. Nomeia outra editora onde o seu engenheiro de mistura é uma estrela. Toda a gente conhece [Mixed by] Ali, e ele nem sequer tem um disco. Eu acho que ele nem faz música. É por causa da continuidade. Ele provavelmente é o melhor engenheiro de mistura de hip hop neste momento.”

 


[Renovação do conceito de monetização]

“85% da receita total de um álbum acontece no primeiro ano de lançamento. Neste momento, todos se preocupam com as duas primeiras semanas de vendas. Eu ficaria surpreendido se não fossem os primeiros dois meses daqui a um par de anos. Não vai ser sobre a longevidade com os lançamentos, mas mais sobre a longevidade com a marca.

Eu acho que muitas pessoas vão se voltar para nós porque a nossa principal atracção é o direito à propriedade. Todos os envolvidos no processo de uma música que fazemos, eu dou-lhes uma percentagem dessa música. Não pago em avanços. Parte disso é porque temos orçamentos baixos, mas também sinto que o mais importante é que a pessoa que trabalhou numa música, possua uma parte dela. (…) Eu quero que as pessoas se sintam investidas nos temas e se sintam poderosas por causa disso.”

 


[A inesperada longevidade pela procura do álbum Rap Album Two]

“É um mistério para mim. Na verdade, está a ir contra um monte de crenças firmes em que acreditava, como a primeira semana de vendas. Agora, há mais pessoas a ouvir o disco no Spotify do que no mês em que o lançamos. É algo que me impressiona profundamente. Eu acho que há algo a ser dito sobre aceitar algo e seguir em frente. Eu poderia dissecar, para perceber o que fizemos correctamente. Em vez de pensar demais, eu quero continuar a sentir. Foi assim que fizemos muito disto, com base na intuição. Nós fizemos muitas coisas estranhas que levaram até ao álbum – o livro de poesia que conduziu a isto, os maxi-singles que estão a ser distribuídos e nem estão no álbum. Nós trouxemos a cultura da rádio de volta, porque eu acho que muitas dessas pessoas, especialmente do lado indie, estão esquecidas. Passamos um tempo extra a tentar conquistar as pessoas nesse campo. Foi uma grande ajuda.”

 



[Arriscar e potenciar um novo talento: A descoberta e aposta no rapper Danny Watts]

“Eu encontrei-o no SoundCloud. As músicas não eram tão boas quanto eu pensava que poderiam ser, mas eu ouvi o potencial. Eu segui-o, algo que faço raramente lá. Mais tarde, ele abordou-me ‘Se quiseres trabalhar, diz-me’. Eu estava tipo, ‘Isso parece-me bem, mas eu não trabalho por e-mail. Se quiseres trabalhar comigo, tens que vir para Los Angeles por tua conta e risco”. Ele disse: ‘Eu estarei aí dentro de uma semana’. Ele voou para cá e trabalhámos no que seria a parte dele no álbum Rap Album Two. Ele não tinha muita experiência no estúdio. (…) Pode existir talento natural num artista, mas precisas de alguém para dizer-te, ‘Tens talento, mas tens o potencial de ser muito melhor’. Essa é uma realidade difícil de ouvir para algumas pessoas. (…) Precisas de um amigo que te diga ‘não’ de vez em quando.

Ele tem uma óptima voz. Ele tem a vontade de retirar detalhes da sua vida para contar a sua história, algo que eu tive de trabalhar com ele. Os artistas gostam de ficar abstractos quando querem esconder. Eu disse-lhe que isso não funcionaria. ‘Se quiseres que alguém te ouça, o público precisa de se sentir cativado e próximo de ti’. É preciso muita habilidade para usar o abstracto como ferramenta e não por defeito. Para levá-lo daí para um contador de histórias – alguém que pode colocar detalhes que te fazem sentir como se estivesses lá – demorou muito tempo. Ele só precisava de tempo para confiar em mim, confiar na decisão, pensar sobre a realidade de se abrir. Mas eu era tipo, ‘Se tu não te abrires, então para que estás a fazer isto? Estás a fazer isto para te fazeres feliz, fazeres outras pessoas felizes? Qual é a finalidade?’ Se tu estiveres em posição de fazer as pessoas pensarem, então deves-te usar como um exemplo. Sejas ou não um bom escritor, a tua vida deve ser lindamente descrita. Retiras dela, e é uma espécie de batota que fazes um pouco. Depois de tomar essa decisão, é muito fácil de concretizar. Agora, há coisas muito loucas a acontecer no álbum de estreia dele (Black Boy Meets World, segundo artista e segunda edição disponibilizada pela Authors).”

 


[Rip-off: a capitalização cíclica de artistas na moda]

“A maioria das editoras procuram um artista porque vêem nele um produto que gostam. Eles não estão necessariamente a olhar para o artista; estão a olhar para uma música que rebentou. Eles não olham para o artista e dizem, ‘Este miúdo vai atingir o estrelato’. Eles estão a olhar para o artista e dizem: ‘Este miúdo teve sucesso. Nós queremos seguir o artista por arrasto até deixar de cair dinheiro dele’.”

 


Assiste ao vídeo em direto deJonMakesBeats em www.twitch.tv
[Novas formas de comunicar com o público: criação do programa Jon Makes Beats]

“Comecei a perceber o poder do olho colectivo da Internet em relação a um produto. (…) Eu tinha uma ideia já há muito tempo sobre ter um olhar mais envolvido no processo criativo. (…) Decidi-me sobre a ideia de criar um programa no Twitch. (…) Jon Makes Beats, eu digo que a tese do programa é normalizar o processo criativo. (…) Se algo está lento ou estamos a fazer uma esquisitice, deves tomar isso como parte do processo. No mundo real, isso não é editado. E esta é uma versão acelerada desse processo. Estamos a trabalhar em ritmo acelerado para completar as coisas. No estúdio real, estamos a trabalhar várias horas para fazer algo. Eu sentar-me-ia misturando durante duas horas, mas as pessoas não querem ver isso. A ideia é encontrar o equilíbrio entre entreter a mosca na parede e dar à mosca na parede algo que é representativo da vida real.”

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