7 Dias, 7 Vídeos

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados

Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?

7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal no terreno do hip hop. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto novo, com tanto para espreitar e escutar.

[Phoenix RDC] “Em Direcção ao Sucesso”

O primeiro registo audiovisual do ano para o hustler de Vialonga vem embutido com uma mensagem motivacional. “Em Direcção ao Sucesso” mostra o lado versátil de Phoenix RDC, que mistura rap puro com um refrão cantado numa batida trap. Embora as filmagens não sejam originais, esta proposta é uma daquelas colagens que combinam na perfeição com a temática que o rapper aborda, ele que é um exemplo de persistência na cena nacional e um nome ainda underrated face à qualidade lírica que compõe o seu hip hop.

[D Double E] “Nang” feat. Skepta

“Neste tema sou eu e ele [Skepta] lado a lado, a manter a energia no ponto e a fazer justiça aos velhos tempos”. Foi assim que D Double E explicou “Nang” à Fader. A colaboração que conseguiu com o Top Boy do Reino Unido é o culminar de uma relação de amizade que já leva vários anos sem que nunca se tivessem cruzado em estúdio. Este é o primeiro avanço de Jackuum!, o disco de estreia de D Double E — o MC londrino leva já cerca de uma década no circuito do grime e em “Nang” faz justiça à era primordial do género. Atentem na delivery crua dos dois rappers e na batida gélida de Footsie, que combinam na perfeição com o espírito raver retratado no videoclipe.

[Dizzee Rascal] “Ghost”

Dizzee Rascal voltou aos discos no ano passado e em grande forma. Recuperando a essência dos seus tempos gloriosos, o veterano MC britânico regressou à fórmula pela qual nos apaixonámos pela sua música. Letras e flows excêntricos fazem-se ouvir nas batidas escolhidas a dedo para o propósito conceptual de Raskit — um álbum completamente a solo que serve como auto-afirmação numa era em que o grime está a regressar ao mainstream. Podem esquecer os projectos menos conseguidos em prol do airplay. É verdade que Raskit não vem com o carimbo da XL Recordings, mas o espírito de Dizzee parece ter regressado a essa era de ouro.

[Coops] “What You Want” (prod. WondrsWhy)

Depois de se apresentar pela High Focus com “That Jazz”, Coops deu uma volta de 180° para o seu segundo single pela editora britânica. Se no mês passado ficámos com uma boa impressão da sua abordagem às sonoridades clássicas do hip hop, podemos agora confirmar a versatilidade do MC, que também não nega os seus versos às batidas de vanguarda. Não há ainda planos para um projecto de maior duração e esta nova aventura de Coops na High Focus parece estar a ser levada tema a tema. A editora deixa o aviso: “há muito mais fogo a sair em breve.”

[Mahalia] “Proud” feat. Little Simz

Se Little Simz é hoje considerada uma das artistas mais talentosas do hip hop britânico, Mahalia parece seguir pelo mesmo caminho. As duas colaboram em “Proud”, o primeiro tema do ano da artista que em 2016 se estreou com Diary Of Me. Maths Time Joy é o produtor que frequentemente se associa às suas canções e volta a somar mais um crédito no tema revelado no decorrer da semana passada.

[Tricky] “The Only Way (Stripped Down Tricky Mix)”

Britain’s got talent. Tricky é outro dos veteranos na cena alternativa do Reino Unido, que no ano passado nos deu a conhecer ununiform. Cada vez mais próximo do universo das canções do que dos versos puros, o rapper e produtor não abdica do lado experimental na sua obra. O seu novo vídeo é a prova disso, com Tricky a remisturar o seu próprio tema para nos dar um outro lado alternativo do disco que trouxe recentemente a Portugal num par de actuações ao vivo.

[Roy Ayers] Tiny Desk Concert

O único americano do resumo de hoje pode, à primeira vista, parecer um estranho no universo do hip hop. Nem será preciso percorrer toda a sua obra e basta agarrar em “Everybody Loves The Sunshine”, eterno clássico da soul em destaque nesta passagem de Roy Ayers pelos escritórios da NPR, para percebermos a enorme herança que o mestre do vibrafone deixou para com a música urbana — Common, Action Bronson, J. Cole, 2Pac, Mos Def ou Dr. Dre, todos eles já associaram um pedaço deste tema intemporal às suas criações. Aos 77 anos, Roy Ayers ainda demonstra total competência para batucar as teclas do seu instrumento e, com ajuda de Mark Adams, Trevor Allen e Christopher De Carmine, protagonizou mais um momento histórico na série de concertos mais pequena do mundo.