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Publicado a: 14/10/2017

5 tópicos importantes na entrevista de Pat Corcoran à Complex

Publicado a: 14/10/2017

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Complex

Pat Corcoran foi o último convidado do The Blueprint, uma série de entrevistas da Complex. O manager de Chance The Rapper sentou-se à conversa com Noah Callahan-Bever e revelou todo o processo que levou Chance a um patamar de sucesso mundial.

O reconhecimento de um artista nem sempre tem de se reflectir na qualidade da sua música. A história da indústria musical já nos mostrou casos de grandes músicos que não conseguiram vingar no mercado, tal como outros, menos dotados, que alcançaram um nível de notoriedade incrível graças a toda uma máquina de gestão e marketing que existe por detrás da sua arte. Um manager pode ser o factor de decisão no sucesso comercial de um músico. E um bom manager a operar a carreira de um bom artista pode gerar feitos inimagináveis.

Pode não parecer, mas a dupla Chance The Rapper e Pat Corcoran começou mais verde do que se pode imaginar. O trajecto até à fama foi longo e repleto de aprendizagem. Hoje olhamos para ambos enquanto exemplos de quem conseguiu contornar as regras da indústria, alcançando números impressionantes para quem se mantém num mercado independente. Juntos reinventaram a forma de actuar no mundo da música e são agora um caso de estudo.

A presença de Pat, enquanto gestor da carreira de Chance, foi até já distinguida por diversas publicações, que escolhem a dedo as mais revolucionárias mentes a operar nos diversos ramos da indústria. A Forbes ou a Billboard são algumas das publicações que já investigaram, um pouco mais a fundo, o modus operandi de Corcoran, por detrás da carreira do rapper de Chicago. Agora, é a Complex quem dá oportunidade ao empreendedor de revelar todos os passos que efectuou até chegar à mó de cima. O Rimas e Batidas retira 5 lições dessa conversa, que devem ter tidas em conta para quem quer vingar no mundo da música num regime do it yourself.

 



[Tentativa/ Erro]

O cansaço ou a desmotivação são dos poucos obstáculos que nos impedem de voltar a tentar algo. O truque passa por ser determinado, numa dose suficiente que nos permita levar uma mentalidade desportiva nesse trajecto, encarando cada erro como uma fonte de aprendizagem para seguir para um novo desafio. Estabelecer objectivos mais próximos da nossa actual situação para evitar que as quedas sejam demasiado grandes.

Pat Corcoran revela na entrevista que um concerto que organizou ao lado de Chance foi um fiasco. “Não sabíamos o que raio estávamos a fazer. Mas tentámos. E através dessas tentativas aprendemos muitos sobre o que queríamos vir a fazer”. A primeira tentativa no Lincoln Hall tinha falhado, mas Pat sabia que, com mais algum tempo de preparação, esse seria um local credível para conseguir um bom concerto para o MC que representa. O trabalho e a persistência compensaram e o segundo concerto esgotou, tendo sido o grande pontapé de saída na estrada desta dupla.

 



[Plano B]

Ingressar no mundo das artes em tão tenra idade também traz as suas consequências menos positivas que se podem tornar em grandes desvantagens a nível de futuro, caso o plano não corra da melhor forma. É importante ter o plano bem traçado e definir metas para saber quando abortar a missão na pior das hipóteses.

A escolha de Pat em largar a escola para se dedicar ao management foi bem ponderada. É sempre complicado comunicar tamanha decisão a um pai, numa sociedade cada vez mais competitiva onde os estudos são sempre uma mais valia num mercado de trabalho agressivo. A estratégia passou por estabelecer um período para pesar os resultados da sua iniciativa.

“Os meus pais fizeram-me ir a sessões de aconselhamento com eles. Diziam-me que não ia deixar a escola, que nem sequer conhecia aquele gajo [Chance]… Era justo. Então concordei em ir a essas sessões se eles confiassem no meu plano. Nós vamos fazer o espectáculo no Lincoln Hall, vai esgotar, vai ser de doidos”, conta Pat Corcoran ao editor da Complex, relembrando o momento em que contou aos seus pais que iria gerir a carreira do rapper. 6 semanas depois, o concerto no Lincoln Hall foi um sucesso.

 



[Conhecer a indústria]

Não basta saber fazer música. É necessário perceber como é que toda a engrenagem por detrás da sua indústria funciona. Principalmente para quem fica do lado da gestão, como Pat. Para chegar até ao estrelato enquanto músico independente, Chance The Rapper confiou no seu agente para estudar todos esses mecanismos que levam um artista do underground ao mainstream. É necessário conhecer pessoas, muitas pessoas. Não necessariamente para os catapultarem para o sucesso imediato, mas para perceber as suas histórias, as suas tácticas, como operam num mercado que é tão agressivo dada a inúmera concorrência que nele habita.

“Nós não vamos querer casar com uma editora naquele preciso momento. Vamos namorando com elas. Conhecer pessoas, ver o que é melhor. Vamos conseguir aprender mais”. O manager de sucesso lembrou os primeiros contactos com pessoas importantes da indústria musical. Contactos que serviram para absorver todo o tipo de informação pertinente acerca de como actuar perante o mercado da música. Passou por várias reuniões com A&Rs e directores de diferentes editoras como a Epic, Universal, Def Jam ou Interscope. Chance The Rapper não assinou por nenhuma das labels e esses encontros acabaram por servir propósitos meramente educacionais. Pat destaca ainda o papel fundamental do agente dos Kids These Days – banda onde militavam Vic Mensa ou Nico Segal – , que o deixou acompanhar a banda numa fase inicial para poder aprender algumas coisas acerca da gestão de artistas musicais.

Não menos importante, é ainda o contacto com outros artistas, preferencialmente já mais bem estabelecidos no circuito. É verdade que hoje o nome de Chance é visto com bons olhos por gente tão distinta como Kanye West ou Justin Bieber. Mas, antes do estrelato, há um nome que em muito influenciou o trajecto que o rapper de Chicago viria a fazer: Childish Gambino. Pat relembra as várias noites que passou com Chance em casa do multifacetado artista, que viria a ser uma das mais importantes colaborações de Acid Rap. A parceria transitou depois para Because The Internet e funcionou tão bem ao ponto de os dois artistas terem decidido trabalhar mais em conjunto. Ainda no mês passado, Donald Glover revelou numa curta entrevista que esse projecto pode até estar a chegar em breve.

 



[Música de fácil acesso]

Para ficar famoso, o conteúdo musical não é tudo nesse processo. Há uma variado número de técnicas a colocar em prática para complementar o desempenho artístico, de modo a que o produto se espalhe por este globo fora. Quando Pat teve a primeira reunião com o pai de Chance, onde se propôs a gerir a carreira do seu filho, ele pediu-lhe para “o fazer passar de um bom músico para um bom músico e conhecido.”, lembra o agente. Era urgente o nome do MC circular rapidamente de boca em boca. E nada melhor do que música gratuita para facilitar esse processo.

Chance ficou conhecido enquanto o rapper que mais sucesso alcança sem recorrer à comercialização dos seus projectos. Em vez de álbuns, chama-lhes mixtapes. E tudo fica ao alcance do público, disponível num mero clique, que faz toda a sua música alojar-se nos nossos telemóveis e computadores por tempo indeterminado. Razão mais do que suficiente para desenvolver um caso sério de romance com o público mais jovem, naturalmente menos disposto a ter de desembolsar um valor monetário para se sentir dono de uma obra musical.

Com este “truque”, Pat acabou até por fintar um problema que acontece frequentemente nos projectos de hip hop: a legalização dos samples utilizados. Embora a música de Chance esteja hoje submetida a cuidados redobrados, o facto da não comercialização das suas mixtapes permitia-lhe a isenção de pagamento pelos direitos dos samples que utiliza nos temas. Quantias que, em fase inicial de carreira, podem fazer toda a diferença para o bolso de um artista.

 



[Menos é mais]

Outra das vantagens de não estar preso a um acordo discográfico é que as fatias do bolo tornam-se maiores para cada um dos intervenientes. Menos pessoas para dividir, maiores receitas para os envolvidos. E menos gente envolvida no processo significa ainda uma maior fluidez no trabalho de toda a equipa. No plantel que defende as cores de Chance The Rapper, Pat abdicou, por exemplo, de um publisher. Mesmo que reconheça algumas das vantagens que esse tipo de serviço lhe pode oferecer, todo o know how e os contactos que adquiriu nos últimos anos permite-lhe conseguir que a sua equipa possa tratar da recolha dos royalities ou facilmente chegar ao contacto com letristas e produtores que lhe interessem para trabalhar com o rapper que representa. Uma forma inteligente de contornar mais algumas das regras estandardizadas do negócio musical.

 


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