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Publicado a: 22/10/2016

4 traços da personalidade de Kendrick Lamar que se destacam na sua conversa com Rick Rubin

Publicado a: 22/10/2016

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Alan Gwizdowski

A GQ Style juntou dois nomes de peso do mundo da música para uma conversa em que Rick Rubin mata a sua curiosidade – e a nossa também – com um bom número de perguntas cujas respostas nos ajudam a traçar o perfil daquele que é dono e senhor do trono do hip hop na actualidade: Kendrick Lamar.

Embora To Pimp a Butterfly tenha data de 2015, todo o seu conteúdo está ainda dentro do prazo de validade. Não só pelas magnificas e belas produções mas, acima de tudo, pela matéria lírica em torno de todo o conceito do álbum. Roubando algumas das palavras de Rubin: “faz-nos voltar atrás no tempo, para aquela época onde a letra realmente importava.”

Este ano fomos prendados com Untitled Unmastered., que compila (boas) sobras do trabalho efectuado em estúdio a propósito do seu segundo álbum, e fomos abençoados com a sua visita ao nosso país numa das maiores noites de sempre para os amantes do hip hop.

A conversa entre o rapper de Compton e o produtor que fundou a Def Jam é um must para qualquer consumidor de hip hop e revela alguns dos traços mais importantes da personalidade de Kendrick, que certamente o ajudaram a chegar onde chegou:

 


1 – A força do pensamento

A conversa tem início com Kendrick a falar acerca do seu processo de criação musical, onde destaca a importância de ir digerindo na sua cabeça as temáticas sobre as quais quer falar em cima do beat, tirando várias notas durante o processo. “O meu processo de criação parte sempre de pensamentos premeditados. Sou eu a pensar em ideias daquilo que quero dizer a seguir e quando entro em estúdio tenho de encontrar aquele som exacto que vai despoletar essas emoções”. Ao ouvir a sua música conseguimos concluir que é um homem bastante lúcido. Alguém que busca pela verdade e sabe fazer a distinção daquilo que é bom ou mau. Coloca dúvidas à própria existência. Em certos temas ouvimo-lo até de voz já esganiçada, como se aqueles takes vocais fossem captados no ponto exacto da ebulição da mente de um Kendrick inundado em pensamentos (“m.A.A.d. city” ou “u”). Quando Rick Rubin lhe pergunta se já se arrependeu de algo que tenha dito numa canção Kendrick rapidamente lhe responde negativamente, e acrescenta: “por vezes gostava era de ter ido ainda mais a fundo em certos temas”. Será o MC de Compton um filósofo dos tempos modernos?

 


 


2 – Identidade musical

Kendrick destaca um momento que teve em estúdio com o músico de jazz Terrace Martin: “ele reparou no tipo de sons que eu estava a escolher e disse “man, os acordes que tu escolhes vêm do jazz. És um músico de jazz por natureza. A forma como a tua cadência encaixa em cima de determinadas tarolas e bombos…””

Embora To Pimp a Butterfly seja assumidamente mais jazzistico que todos os seus antecessores, conseguimos notar uma sonoridade diferente em toda a obra de Kendrick. Mesmo não sendo ele um produtor acaba por escolher para os seus projectos instrumentais bastante singulares. É o seu ADN musical a entrar em acção. Tudo aquilo que ouviu no passado o fez percorrer determinados trilhos sonoros que certamente não teria percorrido se os seu background recaísse no rock ou no reggae, por exemplo. Toda essa experiência sónica fez dele um artista diferente dos muitos outros que militam na mesma liga e isso reflecte-se na sua música.

 


kendrick lamar & rick rubin ®ALAN GWIZDOWSKI


3 – Liderança e empenho

A certa altura Kendrick fala em manter-se “focado e atento, embora confie a 100%” na sua equipa. Nos dia de hoje, cada vez mais, o artista tem de se assumir perante o mercado como se fosse uma empresa. Não basta ir a estúdio gravar e editar as músicas. Há que gerir a imagem, a relação com a imprensa, a gestão da carreira, até mesmo das redes sociais… Atrás do nome de um artista podem estar dezenas de pessoas a trabalhar horas a fio para que o sucesso seja atingido em todos os aspectos possíveis. Talvez seja pelo empenho do próprio Kendrick em querer envolver-se em todas essas sub-áreas que a sua marca consiga vingar em todos os terrenos. Colocar um cunho pessoal em tudo aquilo que o seu nome está envolvido.

 


 

4 – Estudioso

Para último lugar deixei um tópico que me deixou mais pensativo. Por diversas vezes, Kendrick refere que estudou determinado artista ou género musical em vez de simplesmente dizer que o ouviu. E foram vezes mais que suficientes para que o termo ‘estudar’ penetrasse o meu pensamento. “Elucidei a minha mente ao estudar Eminem em miúdo.” O rapper refere também que estudou a música soul e até mesmo a pop. É algo fora do comum no âmbito do hip hop, onde a competição é agressiva e, por norma, todos os praticantes da modalidade querem ter o seu próprio estilo para não serem considerados byters. Nesta conversa conseguimos concluir que Kendrick é humilde ao ponto de saber retirar para si próprio aquilo que os melhores tinham para lhe ensinar sem nunca se colar ao registo desses mesmos artistas. Acaba por ser parecido ao processo de criação musical através de samples, onde a criação de um tema pode passar por samplar 5 canções diferentes sem que o resultado final se assemelhe a qualquer uma das suas fontes sonoras. Com a sua voz, Kendrick consegue ‘samplar’ diversos métodos e esquemas já utilizados outrora sem que nunca se coloque a sua originalidade em causa.

 


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