[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Sara Coelho
Se no primeiro dia a Avenida da Liberdade não foi “abençoada” com chuva, a segunda jornada do Vodafone Mexefest foi bastante diferente, mas nada que não se tenha resolvido com as boleias nos carros do festival. Os nossos locais de “aterragem” foram o Cinema São Jorge e o Coliseu dos Recreios, parando brevemente na Garagem EPAL para um pouco de Ciência Rítmica Avançada, que merecerá report desenvolvivo por Ricardo Farinha.
O primeiro nome que conferimos na nossa lista era também um dos que mais curiosidade suscitava: Gallant. Falsete, falsete e mais falsete. Ology é um álbum que ilustra bem a fase colorida que vive o r&b. O cantor, acompanhado por baterista, guitarrista e teclista, fez as delícias do público e, sempre explosivo, surpreendeu quando falou – o seu tom de voz é bem mais grave do que quando está a cantar. Não é de surpreender o buzz que trouxe na bagagem – Seal, Elton John ou Zane Lowe são apoiantes fervorosos –, demonstrando em todos os momentos ser um performer de excelência, andando aos trambolhões em palco, subindo colunas ou controlando a banda com mão de maestro. A nossa experiência enquanto público é um reflexo da prestação em palco de Gallant: um carrossel de emoções que nos leva para cima e para baixo sem corda, atirando-nos directamente para o âmago das suas experiências.
“Talking To Myself”, “Skipping Stones” – a teclista brilhou no lugar de Jhené Aiko – e “Weight in Gold” são grandes canções, indubitavelmente, mas todo o reportório é acima da média. Escreve como gente grande e torna as canções maiores que a vida – o que é que se pode pedir mais a Gallant? O Coliseu dos Recreios pôde assistir, tal como na noite anterior com NAO, ao florescer de um talento que tem todos os condimentos para ser uma estrela.
Começar com um concerto tão imponente tornava a tarefa difícil para o que viria a seguir. Antes de seguirmos para PZ, a paragem de turista em Blasph & Beware Jack serviu para mostrar o que já sabíamos: o duo é caso sério feito de MCs talentosos com um espaço muito próprio. Deixamos a garagem e deslocamo-nos, debaixo de chuva, até à Sala Montepio do Cinema São Jorge…
PZ é caso à parte no universo musical português. Tornou-se mais conhecido do grande público graças a “Cara de Chewbacca” e criou uma ligação, aparentemente, especial com o público. Pelo menos, era isso que fazia transparecer o papel que indicava “lotação esgotada” à entrada da sala. De pijama, o traje oficial de concerto, Paulo Zé Pimenta apresentou-se em formato trio numa disposição quase “kraftwerkiana” da coisa – maquinaria para todos.
“Toca a ‘Chewbacca’”, ouviu-se uma e outra vez entre canções. Não é brincadeira e a faixa produzida por dB parece ter ficado imortalizada no imaginário português. DJ Thundercuts foi chamado a palco e foi-nos dada a possibilidade de ouvirmos scratch por cima de “Tu És a Minha Gaja” e, finalmente, da tão esperada “Cara de Chewbacca”. Já não sairíamos do Cinema São Jorge: os Digable Planets estavam prestes a actuar no andar de cima.
Chegávamos assim a um dos mais esperados espectáculos do Vodafone Mexefest. O icónico grupo de hip hop trouxe consigo uma banda absolutamente incrível, importante elogiar especialmente o baterista – segurou a batuta e brilhou no solo. Fazendo a revisão pela matéria antiga, Ladybugg Mecca, Doodlebug e Butterfly mostraram-se unidos e nada enferrujados, lembrando-nos logo que os A Tribe Called Quest lançaram um álbum recentemente e dando o mote para um regresso do rap da golden era.
E foi tudo à volta do amor. Num momento de transição nos Estados Unidos da América, as canções de liberdade e pensamento positivo são bem-vindas e tornam-se um bálsamo para a alma. Os Digable Planets não perderam qualidades, isso é garantido. Se o público começou todo sentado, o final apresentava um cenário diferente: todos em pé e a soltar o corpo numa missa rap que não perdeu actualidade.
Não restam dúvidas sobre o espaço que o hip hop consquistou em cartazes diversificados, como foi o deste ano do Vodafone Mexefest. Começa agora a contagem decrescente para o ano de 2017 que se adivinha pleno de surpresas. neste e noiyros campos. Venha o futuro que estamos todos prontos.