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Publicado a: 11/03/2017

Jessy Lanza com nota máxima no 1º dia do Lisboa Dance Festival

Publicado a: 11/03/2017

[TEXTO] Alexandre Ribeiro/Manuel Rodrigues/ Ricardo Farinha [FOTOS] Manuel Abelho 

O Rimas e Batidas esteve no primeiro dia do Lisboa Dance Festival e pôde testemunhar a força da música de dança num espaço que dá vontade de entrar e ficar por lá até sermos obrigados a sair. Um festival diferente em vários pontos: o local — entrar numa livraria para ir assistir a um concerto parece algo retirado de um qualquer sonho hipster — ou a maneira como as próprias pessoas olham para o certame, sendo curioso ver pessoas a comprar bilhetes às 2 ou 3 horas da manhã, muito próximo de se fecharem as portas do primeiro dia.


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[HOLLY HOOD @ FÁBRICA XL] 

Holly Hood foi o primeiro artista a apresentar-se na Fábrica XL, a maior sala do Lisboa Dance Festival. Depois de o termos visto no Lux, Festival Iminente e Musicbox, a actuação pareceu-nos mais oleada do que nunca: Stones Jones e Here’s Johnny, os companheiros a tempo de inteiro do MC no palco, sabem a missa de cor; 9 Miller e No Money não comprometeram e entregaram os seus singles (“Limonada” e “Veneno”) de forma segura, acrescentando o valor adicional à actuação de Holly Hood.

Como é habitual, “Fácil”, “Qualquer Boda” e “Cobras e Ratazanas” foram as mais celebradas e sem sombra de dúvida que se tornaram três clássicos instantâneos. Encerrado o primeiro concerto da noite, foi de notar a pouca audiência àquela hora no principal palco do certame e a certeza de que sensivelmente metade das pessoas presentes eram curiosos à procura de novas sonoridades, algo facilmente notado pelas reacções às canções d’O Dread Que Matou Golias.

– Alexandre Ribeiro


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[HAROLD @ CLUBE ANTENA 3] 

Sem paragens, o rap nacional continuou a ser representado num festival que tenta acompanhar as tendências mais frescas do mercado musical, mesmo que nunca descure o sentido crítico para uma selecção diferenciada. Subimos as escadas da Ler Devagar e, mesmo lá em cima, encontramos uma sala composta com Harold a cuspir versos escudado por Sensi, o DJ de serviço. Indiana Jones foi lançado em 2016 e serviu como prova de que o MC de Mem Martins consegue “sobreviver” a solo. Faixas como “Sucesso”, “Vai e Vem” e “Safari” foram o destaque no alinhamento, mas, sem querer desfazer o bom trabalho de Harold, sentimos a confiança num nível muito mais alto quando acompanhado por Factor e Papillon no palco. Os GROGNation não só são um dos grupos mais frescos e competentes da actualidade, como também é difícil encontrar paralelo em qualquer altura da história do hip hop português.

Para fechar, o colectivo da Linha de Sintra subiu a palco com Fumaxa e Bispo para encerrar uma bonita história no LDF. Teste passado por Harold Rafael, que fazia anos ontem e, como não poderia deixar de ser, os celebrou em palco.

– Alexandre Ribeiro


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[JESSY LANZA @ FÁBRICA XL] 

A nível de dimensão mediática, a distância que separa Jessy Lanza do seu conterrâneo Drake é abismal. Tanta quanto aquela que separa uma plateia da Fábrica XL, em Lisboa, onde a artista se apresentou ao vivo, ontem, da plateia de uma Mercedes-Benz Arena, em Berlim, local que acolheu o concerto do rapper há dois dias atrás. Todavia, e já vão perceber onde queremos chegar com esta comparação, existe um ponto em que ambos os músicos se intersectam e que se estende, obviamente, para além do simples facto de serem oriundos do Canadá.

E que ponto é esse, afinal? O da estrutura musical. Se colocarmos de parte a componente vocal dos dois artistas, o que nos sobra é um esqueleto musical que em muito se assemelha – “I Talk BB” e “Vivica”, duas músicas que integraram o alinhamento, comprovam-no. Batida saliente, com o bombo a assumir um papel fundamental na marcação de tempo; pratos de choque soltos a explorarem as mais diversas variações de ritmo, com a tarola a trazer à memória inúmeros instrumentais do homem de “Hotline Bling”, e baixos propositadamente exagerados, a fazerem estremecer a pedra da imponente sala principal do Lisboa Dance Festival. Macacos nos mordam se não dá para imaginar Drake a rimar sobre um destes temas.

Sozinha do primeiro ao último segundo (da montagem do seu próprio backline à actuação propriamente dita), Jessy Lanza percorreu várias texturas sónicas. Se os primeiros momentos se inspiraram, de alguma forma, na cultura urbana, a segunda metade da performance descolou-se completamente dessa ideia. As batidas aumentaram o seu ritmo, (como em “VV Violence”) e os sintetizadores começaram a rasgar por entre os bombos, baixos e tarolas (como em “Never Enough”), em direcção a uma paisagem synthpop e R&B. A voz, essa, que facilmente nos invoca outras notáveis senhoras oriundas de um universo sonoro idêntico, não falhou uma vez que fosse, e por entre cantos, gritos e notas de agradecimentos, fez-se se ouvir alta e clara, assim como os aplausos vindos da plateia (“It Means I Love You” e “Oh No” foram das mais celebradas). Nota máxima para Jessy Lanza.

– Manuel Rodrigues


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[TOKIMONSTA @ FÁBRICA XL]

Não sabíamos muito bem o que esperar da actuação de Tokimonsta, a produtora e DJ norte-americana de ascendência coreana que em 2010 acabou por se tornar a primeira mulher a assinar pela Brainfeeder de Flying Lotus. Nos seus discos — e já lá vão quatro álbuns e uma mão cheia de EPs —, balança entre sonoridades que vão do hip hop mais instrumental (sem pedir rimas por cima) a várias camadas sedimentares de electrónica, passando por subgéneros mesclados como trip hop ou downtempo.

Ao vivo, coube tudo isto e muito mais no seu set — Tokimonsta queria animar a festa da Fábrica L do Lisboa Dance Festival na passagem das 22 para as 23 horas mas talvez tenha sido demasiado precipitada e desequilibrada até certa altura. Ouviu-se drum ‘n’ bass praticamente intercalado com temas de Dr. Dre ou Kendrick Lamar; instrumentais electrónicos mais frios e orquestrais com vozes mais comerciais em faixas de house ou hits de trap; tudo em passagens muito (demasiado?) rápidas do crossfader, e sem grande elo de ligação ou construção no alinhamento. Entre a plateia, há caras conhecidas como DJ Ride ou Da Chick.

A meio da actuação, os ânimos serenaram e o percurso melódico, os BPM e os graves e agudos acabaram por formar uma identidade naquilo que estava a ser passado — embora sempre com uma vertente mais pop e comercial do que aquilo que podíamos estar à espera no início. Da sua própria música, quase nenhuns vestígios: apenas alguns segmentos remisturados. Foi um aquecer da noite para muitos e para aquilo que viria a seguir.

– Ricardo Farinha


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[DEKMANTEL SOUNDSYSTEM @ FÁBRICA XL] 

Antes de falar dos Soundsystem, falemos primeiro sobre sistemas de som, mais propriamente sobre aquele que se ergue, encaracolado, sobre a plateia. São quatro pontos de sonorização, devidamente apetrechados e direccionados — recorrendo à gíria, dá para dar e vender. Ou seja, seria muito fácil usar e abusar da margem dinâmica concedida para extravasar os limites auditivos, como o caro leitor já terá presenciado inúmeras vezes, nas mais variadas situações.

Não foi o caso. Os Dekmantel Soundsystem subiram ao palco, atiraram-se ao deck de mistura e, por mais incrível que pareça, o volume manteve-se dentro dos limites do aceitável, mesmo sabendo que o botão da aparelhagem ainda podia rodar um pouco mais no sentido dos ponteiros do relógio, o que poderá significar que a nova lei dos limitadores nos estabelecimentos de diversão nocturna está a ser rigorosamente cumprida. Tem os seus prós e contras, como tudo na vida. O lado positivo, aqui, é podermos continuar a usufruir de um dos nossos mais preciosos sentidos.

Quanto aos Dekmantel, podemos reportar que foram eficazes na missão que lhes foi atribuída. A dupla Martojo e Teilroojj colocou os presentes a dançar ao som de um set que oscilou entre house, techno e os seus demais subgéneros, e só pecou pelo carácter demasiado linear, carente de subidas e descidas de ritmo e emoção. Ainda assim, a adesão foi geral — da linha da frente, onde podemos encontrar os mais devotos praticantes do bate pé, à de trás, povoada por curiosos e visitantes ocasionais de música electrónica. Em suma, os Dekmantel foram eficientes, mas não brilhantes.

– Manuel Rodrigues 


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[MARCEL DETTMANN @ FÁBRICA XL] 

Há casamentos perfeitos. Atente-se neste. Uma fábrica reaproveitada, que guarda os traços originais do que outrora fora, com os pilares de ferro e toda a pedra circundante a ganharem principal destaque no quadro, e um tipo que tem na sua música claras influências de EBM (um estilo pesado e agressivo) e industrial. É normal que as ondas sonoras de Marcel Dettmann tenham encontrado na Fábrica XL o local ideal para se propagarem, ricocheteando nas paredes do espaço, depois de devidamente embebidas na envolvência, em direcção aos nossos ouvidos.

Por esta altura, já bem depois das duas da manhã, ainda há pessoas a chegar e a comprar bilhete para entrar. Compreensível, ou não fosse Dettmann um dos maiores bastiões da música techno, com residência num dos mais importantes clubes ligados à cultura, o Berghain, em Berlim. E basta procurar no Google pelo mítico clube alemão, na secção de imagens, para se perceber que, a nível de aspecto, por dentro e por fora, os espaços não diferem muito, ou seja, Dettmann esteve a jogar quase em casa. O seu entusiasmo atrás da bancada de DJ comprovou-o bem. Se virmos o alemão a elogiar a capital portuguesa em futuras entrevistas, saberemos certamente qual a razão.

Do lado de cá, o entusiasmo também se fez notar. Não só por parte dos mais frescos, acabadinhos de chegar e prontos para aproveitar ao máximo as duas horas de set propostas pelo cartaz do festival, mas também por parte daqueles que já aqui se encontram desde da abertura de portas e procuram gastar os últimos trunfos, antes do desejado regresso ao lar — nesta altura do campeonato, certamente doce. A pista de dança ganha as mais diversas cores, não só aquelas emanadas pelas luzes robotizadas que dançam na estrutura de alumínio junto ao tecto, mas sim as da própria diversidade. Homens e mulheres, jovens e adultos, portugueses e estrangeiros, casais com diferentes orientações sexuais e até um rapaz que muitos confundem com o norte-coreano PSY (sim, aquele do Gangnam Style). Os andamentos também são variados: há bebedeiras para todos os gostos e até pessoal que, antes do set se iniciar, certamente consumiu as iniciais do nome do DJ alemão. Over and out. Até amanhã.

– Manuel Rodrigues

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