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Fotografia: Made In Lx
Publicado a: 02/09/2017

"LAU" e "Gomorrah" são os dois primeiros singles a solo do músico português.

11 LIT3S: o artista de Viseu que já partilhou o estúdio com J.Cole e Kendrick Lamar

Fotografia: Made In Lx
Publicado a: 02/09/2017

A vida está recheada de coincidências, mas a história de 11LIT3S não: perseverança, tentativas e riscos são condimentos que pontuam uma narrativa que poderia muito bem dar um filme – quem sabe um dia. Dividir o estúdio com os maiores artistas do mundo não é tarefa fácil, mas nada como um pouco de bravura para dar aquele passo que muitos não conseguem, algo que o produtor de Viseu repetiu vezes sem conta até atingir o que queria.

De Viseu para Crawley, a primeira viagem de Tiago Carvalho fez-se ainda criança. O arranque inicial no universo musical fez-se através de amigos que começavam a explorar o grime em Londres. Chegado à maioridade, o trabalho num café no Aeroporto de Gatwick foi o segundo passo para um objectivo especial: viajar para Los Angeles e começar a criar os contactos, o factor X para aqueles que se querem profissionalizar. A coragem entrava novamente em acção e uma festa da Roc Nation depois dos Grammys acabou por mudar o seu percurso para sempre.

A etapa seguinte levou-o até Rihanna ou James Arthur, mas também o colocou em estúdios com J.Cole ou um pequeno gigante de Compton. “Eu tinha uma sala de produção nos estúdios da Interscope onde eles [Kendrick Lamar e Schoolboy Q] gravavam. Um dia, o Kendrick entrou sozinho no meu estúdio porque estava a curtir o som. Esteve lá um bocado comigo e depois pediu-me para lhe mandar a cena”, revelou o músico que regressou a Portugal nos últimos anos.

Deste lado, os ventos bafejaram-nos com a sorte e a descoberta deste talento de 24 anos aconteceu através de Slow J. Inusitado, certo? Depois de um artigo escrito sobre A.Chal, em Dezembro do ano passado, um pequeno lembrete caía na caixa de mensagens deste que vos escreve: a bombástica “Round Whippin’” era produzida por um português. Melhor: o processo de criação do instrumental teve lugar numa casa de praia em Viana do Castelo. E esta, hein?

Com dois singles a solo cá fora e uma carreira pela frente, 11 LIT3S passa sem licença para os lugares da frente no topo de músicos nacionais a dar cartas lá fora. Através de e-mail, o Rimas e Batidas conversou com ele sobre a infância, a mudança para Los Angeles, o trabalho com Rihanna e A.Chal:


[De Viseu para Londres]

“Os meus pais emigraram para a Inglaterra quando eu tinha 5 anos. Desde aí, voltávamos para Portugal em períodos pequenos, mas a minha vivência e a minha cultura geral está muito influenciada por Inglaterra e pela língua inglesa. Desde muito novo, os meus pais andavam muito de um lado para o outro de carro. Ouvia muito Motown, Michael Jackson, Pink Floyd, Led Zepellin, Dire Straits, um pouco de tudo. Aos 12 anos, e depois de ter chegado de umas férias em Portugal, um amigo meu tinha começado a fazer grime com um grupo em Londres, e eu, como sempre, fui um pouco mais reservado, mas queria fazer parte da cena. Um dia, numa aula de música, comecei a tocar uns acordes que tinha feito no piano, e eles começaram a rimar por cima. Gravei aquilo para o Cubase, fiz uns drums podríssimos por cima e, desde esse dia, tem sido dias e noites a tentar melhorar o meu jogo de drums e a cultura no meu som. Vai fazer agora 13 anos.”


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[Arriscar tudo em Los Angeles]

“Aos 18 anos juntei algum dinheiro num trabalho que a minha mãe me arranjou num café. Juntei umas 3 mil libras para me meter num avião para Los Angeles com um amigo chamado Walé. Sempre quis seguir os passos do produtor e empresário Alex da Kid. Sempre me inspirou muito a viagem dele, e sempre pensei: ‘se conseguir fazer isto funcionar na América, toda a gente em Inglaterra e noutros países vai prestar muito mais atenção’. Nessa viagem a LA, o primeiro mês correu mal para nós. Eu tinha uma reunião alinhada uns meses antes de ir para lá, e estava a depositar grande confiança que pudesse conseguir alguma coisa. Só tinha mesmo isso planeado para esse trip. Toda a gente que tinha contactado por e-mail não estava muito interessada. Preparei música para levar e fomos ter com um A&R da Universal. Cada musica que ouvia, ouvia tipo 20 segundos e mandava me passar para a próxima até que no final nem me deixou acabar a última e disse: ‘Não estou a ver porque vieste aqui hoje. Estás claramente mal preparado e nós precisamos de hits, não isso que me tocaste agora… Acho que devias voltar para a Inglaterra e trabalhar mais no teu som’. Fiquei um pouco de boca aberta com a situação, mas pronto, agradeci o tempo e eu e o Walé voltamos para o nosso carro azul bebé que se estava a desfazer todo, e quase não falámos um para o outro na viagem para casa. Foi um momento um pouco estranho, mas crucial para o resto da viagem. Nesse dia, chegámos lá a casa e acabei por escrever o refrão que uns anos depois vendi ao Jay-Z, transformando-se depois num single da Rihanna.”

“Depois de vários dias lá fechado em casa a trabalhar, chegou a semana dos Grammys em LA. Arranjei um casaco de fato, e fui à procura de festas, eventos para tentar conhecer pessoas, produtores, artistas… Com alguma sorte, consegui entrar na festa da Roc Nation. Um pouco intimidado pelas estrelas todas à minha volta, mas com medo de voltar para o café e servir pessoas mal humoradas, comecei a tentar a minha sorte e a meter-me com toda a gente. Conheci o J Cole, DJ Khaled, interrompi a Katy Perry e a Rihanna para lhe pedir um beijo. Elas riram-se e a Katy apertou-me a bochecha antes do segurança agarrar em mim. Tive uma pequena conversa com o Ari Emanuel. Para quem não conhece, é um ídolo meu que é CEO da WME, o Ari Gold da série Entourage.”

“Nessa festa conheci a pessoa que me ajudou a fazer da música o meu rumo: Rami Samir Afuni, um produtor e empresário de Nova Iorque. Ele nessa pequena viagem pôs-me em mais de 40 reuniões e, fast forward, no final dos dois meses em LA tinha 3 ofertas de publishing e 3 grandes editoras a negociarem quem me podia dar o melhor contrato, duas delas de duas das minhas grandes influências, Alex da Kid e No I.D.. Uns meses depois assinei com o que veio a fazer mais sentido para mim, o presidente da Island Records (Universal Music NYC) David Massey, que se tornou num mentor para mim até hoje.”


[“Towards The Sun”: A música que escreveu para Rihanna]

“Não tive presente enquanto ela gravou o som. Gostava de ter estado porque sinto que quem trabalhou/misturou o som fugiu um pouco à visão que tínhamos para ele. Sou grato na mesma pela oportunidade e fiquei contente por ver a música a ser tocada em cinemas por todo o mundo.”


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[As sessões de estúdio com J.Cole, Kendrick Lamar e Schoolboy Q]

“Já tive em sessões com vários nomes que me inspiraram. Em LA tive com o Kendrick Lamar, Schoolboy Q. Conheci o Dr. Dre nesse mesmo dia. Tive uma reunião com o Jimmy Iovine uns dias antes disso, e foi um momento especial para mim e para a minha equipa. Em Londres tive a tocar uns sons para o J. Cole no estúdio. O Ludacris teve-me a tocar o álbum dele. Tive várias vezes com o TyTy, melhor amigo do Jay-Z, em Londres, LA e Nova Iorque a trabalhar em projectos para os artistas deles. E outros artistas e produtores como James Arthur, Bebe Rhexa, Kiesza, Boi1-Da, DJ Dahi, No I.D., Dr. Luke, Stargate, Seeb… Nós não dormíamos muito.”



[O amigo A.Chal]

“Conheci o Alejandro em casa da Rita Ora e foi aí que trocámos contactos. Vivíamos os dois em Hollywood, por isso começámos a passar tempo lá em casa dele a fazer música e a sair juntos. Tornámo-nos bons amigos. Um dia fui para Viana do Castelo – tenho lá um tio com uma casa na praia – e tive lá a fazer beats. A maioria acabaram por ser sons que fiz para ele. Mandei-lhe e ele mandou me logo a ‘Round Whippin”. Daí para a frente foi gravar o resto. Foi um processo relativamente rápido.”


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[A descoberta do hip hop nacional]

“Estando há dois anos a morar em Lisboa e Viseu, tive oportunidade de meter a cabeça na música nacional e fico contente de ver o hip hop português a evoluir como está a evoluir. Já conheço o Lhast há alguns anos e acho que o trabalho dele e a sonoridade que ele esta a criar cá em Portugal não têm paralelo. Sou fã. Também gosto da música com o Slow J. Gosto da mensagem. Já tive a oportunidade de trabalhar uns dias com ele e inspirou-me bastante para a minha própria mensagem, e a calibrar um pouco o meu caminho como artista.”


[Os primeiros passos para uma carreira a solo]

“Nesta viagem que tenho tido como produtor e a escrever sons para outros cheguei à conclusão que todos temos a capacidade de ser artistas e não existe crédito nenhum que bata a liberdade de poder criar arte e expressar de livre vontade tudo o que sentires com o teu próprio nome. Comecei a cantar porque sinto que é a única maneira de me expressar a 100%. Em termos sonoros, eu quando fiz aqueles trabalhos para o A.Chal estava simplesmente a fazer o que faço quando não penso muito. Foi natural e é isso que estou a tentar fazer com os meus beats: não pensar, deixar a cena sair naturalmente. Talvez possa vir daí assimilação sonora com o Alejandro.”


[O futuro]

“Agora vou trabalhar em meter sons cá fora enquanto os vou escrevendo – sem regras – até ter um álbum. Vou voltar este mês para Los Angeles para puxar o projecto para a frente. Vou levar a minha equipa para lá e vamos focar-nos em meter muita música cá fora regularmente, fazer vídeos e, eventualmente, deixar a nossa marca no mundo.”


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